Nos 97m² predominam, além do estilo contemporâneo, uma assinatura de cunho histórico. A ideia foi aproveitar a excelente metragem do imóvel para comportar um outro (e novo) estilo de vida para um público bem definido. O apartamento está todo integrado, com as áreas compartilhando uma luz natural privilegiada. Sala e cozinha, por exemplo, dialogam fluentemente depois da queda de uma parede. Ao dar vida à integração dos espaços, surge um convite irresistível à convivência e ao morar bem.
O piso em madeira, substituindo os antigos parquets, confere maior unidade aos ambientes. Amplitude, aconchego e uma paisagem única através das grandes aberturas recebem uma certa dose de elegância dos anos 1940, permeada por materiais em estado natural.
Nas paredes está um dos pontos altos dessa releitura: as várias camadas de tinta sobrepostas em cores diversas do reboco original foram peneiradas e geraram um agregado leve, quase branco, com pontinhos coloridos das cores das tintas usadas no passado, que foi a base para o reboco aparente visto hoje. Ou seja, o que cobria as paredes voltou a cobri-las novamente, mas, agora, como um elemento de destaque.
Há uma divisão conceitual que remete às décadas de 1950 e 1960, através de blocos vazados de concreto que atuam como uma releitura de cobogós: a elegante demarcação da transição entre ambientes.
Ainda que o sol seja o grande anfitrião, o projeto luminotécnico foi pensado de forma a enaltecer a nova cobertura das paredes, com um sistema que se assemelha àqueles utilizados por galerias de arte, com iluminação focal e outra geral com dimmer regulador. Há também uma iluminação especial, instalada de modo a marcar a divisão dos ambientes e destacar certos pontos. Na cartela de cores, tonalidades de cinza, além de madeiras em diferentes tons.
Um dos destaques diz respeito ao piso em parquet – depois de retirados, a análise de um restaurador constatou que eram de imbuia dourada, uma madeira já extinta em todo o mundo. Por isso, todos os parquets foram reaproveitados. Agora, eles podem ser vistos nas paredes da cozinha, como detalhes decorativos no lavabo e banheiro e na cabeceira da cama, por exemplo.
Um sistema construtivo comum da época, em que as paredes são feitas por blocos cerâmicos e têm a função de suportar todo o peso do imóvel. Por outro lado, trabalhar com a remoção de paredes abriu espaço para o uso de vigas de aço, o que colaborou para a estética contemporânea pensada desde o início.
Maya, indicada em 2017 pela revista Amarello como um dos nomes mais proeminentes da nova geração de artistas brasileiros, colabora com três obras da série Disfunções
Migratórias. William está presente através de gravuras da série Geometrias Urbanas, que descobre novas “oportunidades visuais” em objetos familiares. Torres transmissoras, tão comuns no cotidiano, mobilizam Menkes a buscar ângulos, sombras e texturas que a repetição da imagem no cotidiano costuma apagar de nossos olhos.
O resultado de todo esse trabalho
é um espaço com a própria identidade, mas
revestido de um “perfume” de contemporaneidade.
Nos detalhes, no jogo de luz e sombra, nas texturas e em todas as soluções técnicas e estéticas escolhidas, predominam o desejo pelo moderno e o respeito pelo que se foi.