O apartamento onde o trabalho foi realizado está localizado num edifício construído em 1952, pelo engenheiro Lineu Paulo da Costa, no centro histórico de Curitiba, região que hoje se destaca por ser alvo de um amplo projeto de revitalização e de áreas de arquitetura preservada.
Para esta releitura, foi realizada uma pesquisa junto ao público que hoje está se deslocando para viver no centro da capital. São pessoas solteiras, em sua maioria homens, jovens casais e estrangeiros, que chegam à cidade e entendem como facilidade estar próximos à Universidade Federal do Paraná e ao centro financeiro, onde muitos deles trabalham, e também pelo fácil acesso às conveniências do dia a dia, sem necessidade de transporte. Essas características auxiliaram na composição do perfil dessas pessoas, possibilitando que a proposta de restauração atendesse às necessidades desse público; que na sua maioria traz consigo uma referência cosmopolita de lifestyle.
São 98 metros de área útil,sendo que na sua origem apresentava: hall de entrada, sala de estar, sala de jantar, 01 wc, 02 quartos, cozinha, área de serviço e dependência de empregada.
O piso original em parquet estava em péssimo estado. Com um trabalho artesanal foi possível recuperá-lo em sua totalidade, revelando uma “identidade” muito interessante: as peças usadas no piso, que identificaram-se como sendo de imbuia, não eram todas da mesma cor. Algumas tinham tom de ameixa e outras, de marfim. O que após o restauro salientou o estilo “marchetaria” da composição.
A paginação do piso, originalmente, em 80% do apartamento obedecia o desenho que conhecemos como “tabuleiro de damas, sendo que apenas em um dos ambientes, o parquet foi colocado na disposição espinha de peixe. Esse detalhe nos induz a pensar que a escolha pode ter sido um “ensaio” para o que seria usado, posteriormente, no piso da Biblioteca Pública, obra mais relevante do engenheiro Lineu Paulo da Costa.
Com a remoção de algumas paredes, ampliamos o conceito espacial dos ambientes que agora interagem, dando mais fluidez à dinâmica do imóvel, evidenciando assim o conceito “aberto” deste espaço.
Também foi criada uma saleta coringa que abriga o centro de mídia e, quando necessário, se transforma em um quarto de hospedes, com banheiro anexo.
O conceito aplicado no banheiro faz com que ele funcione bem no cotidiano, como um lavabo e quando necessário; é o banheiro exclusivo do quarto de hóspedes.
Agora anexo ao quarto principal, em uma saleta de banho e um quarto de vestir (closet) que juntamente com o bedroom, constituem a suíte máster do apartamento.
Para o piso escolhemos usar o ladrilho hidráulico, que juntamente com as luminárias, originais de uma fabrica dos anos 40 na Alemanha, trouxeram um ar “industrial elegante” a esse conceito de cozinha. A área de lavanderia que foi acoplada a este espaço traduz, na sua forma compacta, o conceito de praticidade tão importante para quem escolhe o estilo cosmopolita de viver.
Para o vernissage opening, convidamos 3 artistas (André Azevedo, Felipe Fontoura e Karime Xavier) nascidos em Curitiba e que hoje produzem sua arte pelo mundo. Cada um deles expôs, no próprio apartamento, uma obra cujo tema pudesse mesclar ao conceito do imóvel.
Ao final do trabalho concebido por Eduardo Borges é possível identificar um ambiente personalizado e atemporal com características cosmopolitas. As cores que agora cobrem as paredes deste espaço trazem na sua memória o vermelho da terra onde esteve na infância, o verde das matas tão presentes em sua vivência. Observando os detalhes deste universo, este criador, enxerga algo de si mesmo naquele resultado. Conclui, neste instante, que fez da sua criatura em parte sua semelhança.
Fotos: Roger Engelmann.