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Corredores

O Projeto

A semântica aponta que releitura é a ação de interpretar novamente alguma coisa acrescentando algo novo e original. Na arquitetura, costumo dizer que a releitura é prima da reforma e irmã do restauro. Assim como numa reforma simplificada, esse processo, também visa a adequação do espaço às tecnologias e comodidades do momento atual. Mas sempre trazendo uma preocupação com a identidade arquitetônica ali expressa. Na releitura a preservação das linhas da arquitetura original é uma regra. O processo requer um estudo aprofundado do histórico da construção aliado a uma boa dose de poesia.

Ponto
Inicial

Corredores são espaços de ligação entre ambientes. Mas neste projeto o sentido de ligação é ampliado pela necessidade de harmonizar demandas por mais conforto, segurança e comodidade, num espaço com identidade consolidada há décadas.

A ligação entre passado e presente se dá de forma harmônica onde os elementos de ontem e de hoje se acomodam de forma respeitosa e funcional.

O projeto de releitura deste espaço nasceu da necessidade de uma adequação técnica de todo o sistema elétrico do edifício, original dos anos 40. Associado a isso a modernização do sistema de interfones instalado nos anos 70, instalação de um sistema de segurança, a implantação de uma grade frontal para criação de um pequeno hall de entrada externo também foram pontos considerados no projeto.

Herança

Assim foi desenvolvido o projeto de releitura de toda a área comum do edifício (corredores – patamares - hall interno) evidenciando os traços arquitetônicos originais, que apresentavam influencia art-deco.



Soluções

Um novo olhar para velhos problemas.

Para acomodarmos o novo sistema elétrico foi preciso a criação de um shaft(*) por onde subiriam os dutos indivualizados para o sistema elétrico a ser instalado.

*shaft: também conhecidos como duto, são aberturas verticais para a passagem de tubulações.



Este tipo de organização permitiu ao edifício uma maior comodidade e segurança no manuseio destes sistemas. Com a criação de uma área técnica superior, localizada no vão do telhado, com dutos separados e hierarquia de cores pela função, os sistemas se encontram hoje compatíveis com os edifícios mais modernos da cidade.

Após análise do edifício constatou-se que, por ter tipologia construtiva em alvenaria estrutural, seriam permitidas poucas mudanças e ou aberturas. Portanto optou-se pela localização do shaft, na porção central das janelas dos patamares, pois a laje do piso nesta porção da escada se encontrava recuada cerca de 30 cm. Assim foi criado um espaço para passagem dos cabos até o vão do telhado onde seriam distribuídos para os apartamentos.



No shaft foi locado também a nova tubulação de interfones e cabos para mídia, que também seguiram até o vão do telhado para posterior distribuição.

Ás Areas Comuns




Para áreas comuns, soluções individualizadas.


Durante a obra para instalação destes novos sistemas, percebeu-se, que alguns itens originais do edifício se encontravam desgastados. Sua reposição ou substituição foram cuidadosamente estudadas.




Para reposição das esquadrias das janelas, foi desenhado um novo modelo, com abertura das bandeiras em vidro em sistema pivotante, aumentando a área de entrada de ar e auxiliando na manutenção.

Releitura

Um novo olhar sobre o que fazer e como fazer. Assim é possível começar a definir o que representou a realização do Projeto Corredores. O processo de restauro (ou releitura) de um espaço que se impõe há décadas, por sua personalidade, já representa um grande desafio.

Junta-se a isso o fato do projeto ter sido elaborado e executado, com os apartamentos ocupados, em um momento de pandemia e isolamento social que assolou o mundo em todos os sentidos no ano de 2020.

Os corredores do edifício Franklin Canfield têm histórias para contar. Aliás corredores, em sua maioria, sempre têm. Injustamente são definidas como áreas comuns e “despersonificadas“. Mas na verdade trata-se da persona que representa o edifício. São os corredores que acolhem e conduzem os moradores até o seu porto seguro, chamado de morada.

Vias de saídas e chegadas

Área onde as relações sociais têm seu lugar de fala, especialmente, quando não se pode ir além deles. De meros espectadores passam a ser o palco de outras histórias.

Toda a área dos corredores possui, na porção inferior de suas paredes, uma espécie de relevo, que foi feito em forma de carimbo pressionado sobre a massa ainda mole. Por toda a área comum, corredores e patamares, quadro a quadro foram se juntando formando pequenos mosaicos de textura. É a personificação em pedra da sofisticação que os italianos gostam de chamar Fatto a mano.





São essas obras de arte produzidas, literalmente, pelas mãos de artesões de outros tempos, que guardam as histórias mais incríveis que esse edifício tem pra nos contar.

Histórias de generosidade durante tempos difíceis. A scusa traduzida num pedaço de bolo e um sorriso. A solidariedade que chega com o aroma de uma sopa quentinha, emolduradas pelas vistas de imbuia maciça. As conversas aconteciam, num tempo diferente e com uma essência diferenciada. Um tempo de cuidado. Onde uns cuidam dos outros e todos cuidam de um espaço. E este, por sua vez, retribuiu o respeito com o qual estava sendo tratado, se revelando, de novo, belo, elegante e cheio de personalidade para abrigar novas vivências. São essas histórias que escolhemos ouvir e emoldurar nessa releitura.




O resgate da história, por meio da pesquisa realizada, de como havia sido feito o piso original de granilha , confirmou o caráter nobre do desenho destes corredores. Como naquele tempo não havia, no Brasil, as atuais máquinas que lixam e aplainam a granilha bruta, o processo era executado a mão. Assim foi feito, em 1943, metros e metros de granilha polida a mão. Um processo que trouxe a nobreza de suavizar o caminho alheio.

As portas sociais ganharam restauro que deixou exposta a madeira original (imbuia). Para as entradas de serviço, a opção foi a manutenção do branco.

A instalação de um sistema novo de iluminação em toda área comum, com funcionamento hibrido (sensores e teclas) possibilitou, além do efeito luminotécnico, uma maior economia no uso de energia elétrica.



Um ponto relevante observado foi com a porção inferior das paredes que apresentam uma textura original. Pesquisas criteriosas identificaram que o método usado para realização deste relevo foi um trabalho artesanal de valor inestimável.

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APARTAMENTO 23
FICHA TÉCNICA | Corredores
Projeto e Conceito: Eduardo Borges
Projeto Elétrico: Jorsan Engenharia S/SLTDA
Consultoria Técnica de Projeto: Arquiteta Taise Wlodkowski, CAU204073-5
Laudos Técnicos: Engenheiro Alexandre dos Santos Taube, CREAPR121783/D
Obra: Same Construções
Artefatos em Metal e Aço: MetalFiron
Movelaria Fixa: Kale Marcenaria @kalemoveis
Obra de arte: OS PASSAROS – Felipe Fontoura @acaradofe
Fotos: Roger Engelmann @rogerengelmannfotografia
Assessoria de marketing: Karla Borges @karlaborgesrp
Agradecimentos especiais: a todos os moradores do edifício,
pela confiança, paciência e cordialidade durante todo este processo.